A diferença entre os filhos e o amor em cada detalhe de um e de outro…
– Oi, filho! E a prova como foi?
– Te amo, pai.
Filho 1 em dia de lição de casa:
Duas da tarde.
Mesa da sala impecável.
Mochila à mão ele senta, organizando livros na ordem que serão consultados, estojo com lápis, canetas, borrachas, réguas de todos os formatos, post-its para anotações, squeeze com água, tudo pronto.
E dia após dia, exceto aos sábados, está rotina era cumprida religiosamente até às cinco, seis da tarde.
Filho 2 em dia de lição de casa:
Três e meia da tarde.
Um livro e um caderno com algumas anotações, rabiscos, na realidade. Deita na cama. Folheia o livro displicentemente.
Claro que a mamãe já tinha implorado para ele começar a estudar há mais de uma hora.
Pára num capitulo específico. Lê o primeiro parágrafo – História: Napoleão. BOOOOORING.
Dá sede, vai na cozinha. Bebe água e pega um chocolate. Volta.
Agora está no quarto dos pais. Pega o caderno, vai pra sala e deita no chão. Matemática.
– MÃE ME AJUDA AQUI NESTA QUESTÃO!
– Que questão?
– Nada não…
Vai ao computador, joga um pouco, senta na mesa, vai para o quarto, pega outro livro da mochila.
Mais 5 minutos e conclui os estudos.
Dez pras quatro.
Colégio. Terceiro ano do ensino fundamental do filho 1.
Dia de prova.
Na véspera era obrigatório o “boa sorte” dos pais.
No dia, já se sabia: concentração absoluta antes da prova. Nunca era dos primeiros a sair da sala.
– Quando concluo a prova, tenho que revisar ela toda. Vai que tem alguma questão que eu não fiz direito…
Colégio. Terceiro ano do ensino fundamental do outro filho.
Mãe é chamada na secretaria pedagógica. (O que foi agora, Meu Deus?).
– Senhora, seu filho não para quieto na sala e está afetando o rendimento dos outros alunos.
– Estranho, porque dessa forma o rendimento dele seria afetado também, mas em casa ele faz as tarefas sem pedir muita ajuda e as notas dele no colégio são boas…
(Imagina se a coordenadora soubesse como a tarefa era feita…)
– É, senhora, na sala ele também faz as tarefas, o problema é que ele sempre termina primeiro que os coleguinhas e depois quer brincar e conversar com os outros e isso atrapalha os demais…
– Vocês já tentaram colocá-lo na cadeira da frente? Talvez ele se concentre mais sentando mais próximo da professora…
– Sim, mas ele se vira e vai conversar com o coleguinha de trás.
Tentamos colocá-lo na última fila e ele formou uma turminha do fundão.
Chegamos a colocá-lo para ser uma espécie de monitor, entregando provas e exercícios aos demais alunos para ver se ele se ocupa, mas em cada cadeira ele para para conversar com os coleguinhas.
(Silêncio)
– Vou ver o que posso fazer…
Diferenças…
Afinal, quem é mais feliz? E quem pode dizer?
O que vejo são duas pessoas completamente realizadas com a forma que decidiram viver.
E foi assim através de toda a fase escolar dos dois: o boletim de um era sempre impecável, eu nunca pedia para ver, porque ele chegava em minhas mãos com orgulho e premiações de todo tipo.
Todo bimestre, lá ia eu para o colégio cantar o hino nacional e chorar ao vê-lo recebendo os troféus e diplomas que eu guardo até hoje.
Já para o outro, o boletim não existia.
Eu tinha que pedir para ele, que nunca recebia.
A gente tinha que ir pegar no colégio, buscar na internet e já sabíamos que a leitura do boletim seria sempre com emoção, tipo andar de buggie nas dunas cearenses.
Vez ou outra, eu caía na besteira de perguntar pelo boletim para ele, mas era só quando tinha saudade de ouvir aquela resposta pronta e sincera e que me derretia completamente:
Te amo, meu paizinho lindo do coração! ♥