Pais que se ofendem com “não” dito aos seus filhos: mimados ou sensíveis?
Estamos vivendo diante da incrível geração de pais que se ofendem com um “não dito aos seus filhos.
Sim! A incrível geração de pais que resolveram que seus filhos, os floquinhos de neve especiais, não podem ser contrariados, nem mesmo na casa dos outros.
E eu, sinceramente, tenho muito medo desses filhos quando crescerem.
Medo, porque se os pais, que provavelmente foram criados ouvindo “não” já são assim, xaropes, imaginem seus filhos, que são criados diretamente por eles, xaropes, o que não sairão?
Caso 1. O pai/a mãe (não dava para saber ao certo) que reclamou da desconhecida que não deu suco para a filha
Há alguns dias, pipocou na internet um print de um post desaforado de uma pessoa (pai ou mãe, não sei ao certo) reclamando e xingando muito uma desconhecida que não quis dividir o seu suco, em pleno meio da rua, com a criança de 1 ano e pouco.
Então vamos entender esse primeiro caso de pais que se ofendem um “não” dito aos seus filhos:
- esta pessoa não tem um pingo de preocupação com higiene e saúde da filha, né?
- esta pessoa não tem qualquer noção de espaço e limites alheios
- esta pessoa não tem um pingo de comprometimento com a formação do indivíduo que ela tem ali
- E se tinha álcool, drogas, medicação na bebida?
- E se a pessoa tinha herpes, gonorreia ou qualquer doença?
- E se a pessoa só tinha aquele restinho pra beber pelo resto do dia e não teria como comprar outro?
Enfim, existem tantas possibilidades e em nenhuma delas é viável que uma mãe considere que o filho tenha direito absoluto sobre aquilo que não é seu. Simples.
E aí eu me perguntei: Como podem pais que se ofendem com pessoas que os ajudam a educar os filhos?
Caso 2. A mãe foi tirar satisfações via Whatsapp com a moça que não deixou seu filho de 7 anos brincar com seus action figure que ficam no quarto da pessoa
Este caso é o mais sem noção possível.
Primeiro, porque em nenhuma condição no mínimo viável, uma mãe que está envolvida na formação do indivíduo, considera que algo que não pertence ao seu filho seja de usufruto dele sem permissão.
Hoje, são os action figure, amanhã são os corpos das meninas que dizem não e ele vai lá e acha que pode e pronto.
No caso em questão, a criança entrou no quarto da moça para mexer nos bibelôs e a moça negou e a mãe, então, foi ávida por vingança no Whatsapp tentar diminuir a moça por não ter dado permissão ao seu filho de 7 anos, já que ela, como mãe, não pode explicar pra ele que não pode e acabou.
Dicas marotas da vida para criar um filho bacana pra você e pro universo:
1. Assim como “Meu corpo, minhas regras”, “Casa dos outros, regras dos outros”
Desde sempre aprendi – e ensinei a minha filha, aliás – que se vai à casa dos outros, ela segue as regras dos outros e acabou.
Não gosta das regras dos outros, não vai na casa da pessoa, oras bolas!
Assim como quem tem criança não as tranca no quarto quando vem visita que não curte criança, quando a criança visita alguém, não é pessoa que tem que esconder as coisas.
É a mãe e/ou o pai que tem que dar limites e ensina-las que sem permissão não se mexe.
2. Nem tudo o que seu filho quer, ele pode
Esta mesma mãe que reclamou da moça não deixar o filho dela mexer nos bibelôs, por acaso, quando vai à lojas, acha que o filho pode mexer em tudo?
E quando ele vai mexer nas gavetas dela, se ele acha um vibrador, ela deixa ele mexer só porque senão ele vai chorar, ficar com vontade e ficar doente?
E se a filha da moça lá do suquinho vir alguém carregando um líquido leitoso, branquinho, mas que é um veneno letal, vai obrigar a pessoa a deixar a filha tomar, só porque ela sentiu vontade?
Então pronto! Crianças tem, sim, que ter limites.
3. Quem precisa ensinar os filhos a lidarem com as frustrações são os pais
Já falei aqui antes sobre pais ensinarem os filhos a lidarem com frustrações e sobre o prazer de educar.
Outra coisa que tenho visto demais, é gente achando que o mundo tem que abraçar as causas de sofrência dos filhos alheios.
Não tem, não!
Ser mãe e pai inclui, sim, ter que lidar com a frustração de frustar os filhos e ensina-los a lidarem com isto.
Não é obrigação de ninguém satisfazer os nossos filhos em detrimento de si mesmos.
Mas é nossa obrigação ensinar aos nossos filhos como lidam com as frustrações.
4. Hoje, quer um brinquedo. Amanhã, quer tomar mulheres à força
Sim! O primeiro passo para criar um abusador é ensinando-o que ele pode tudo, inclusive ser abusado na casa alheia que a mamãe e/ou o papai vão defendê-lo.
Depois não adianta fazer discursos e mais discursos defendendo “meu corpo, minhas regras”, nem usar avatar de “Sou contra a cultura do estupro”, se você apoia que seu filho ache que pode pegar o que quer, onde quer, de quem quer e quando quer e quando não tem, você vai lá e xinga a pessoa.
Resumindo:
Dói ver os filhos sofrendo, mas dói muito menos do que vê-los sendo adultos abusivos por aí e lembrar que podiam ter feito algo e não fizeram.
Então não sejam pais que se ofendem com as pessoas que dizem “não” aos seus filhos.
Leia também: “Pais tóxicos”
♥