– Amor, taqui o resultado do exame: tô grávida.
– …
– …
– Ixxxxx…
E ela chorou.
Foi pelo susto, pois a gente não estava esperando.
Não é que nós não queríamos um segundo filho, queríamos muito, mas não estávamos planejando naquele momento e, por isso, o susto foi enorme.
E o que veio depois foi pior: a gravidez não foi de muitas preocupações, mas durante todo esse período ela enjoou muito.
Mas com 8 meses de gravidez – não falo em semanas porque pra traduzir isso em meses é preciso ter feito cálculo 3 no mínimo – os enjoos começaram a melhorar e quando estávamos ficando um pouco mais aliviados veio a surpresa:
– A bolsa rompeu – eu estava na faculdade no fim da aula, em torno das dez da noite, quando o telefone tocou com a notícia.
E a tranquilidade zen de um monge budista baixou em mim:
– O QUÊÊÊÊÊÊ????? PERAÍ AMOR JÁ TÔ INDO PRA AÍ PROFESSORA TENHO QUE IR AGORA MEU FILHO TÁ NASCENDO E O MÉDICO AMOR JÁ LIGOU PRA ELE CHAMOU A SUA MÃE E AS COISAS QUEM ARRUMA POSSO IR PRO HOSPITAL VOU PRA AI COM FAÇO O QUE FAÇO….
– Amor tá tudo bem, fique calm…
– EU TÔ CALMO EU TÔ CALMO MAS COMO FOI ISSO NÃO TÁ NO TEMPO JÁ TÔ INDO SAI DA FRENTE FIDUMAEGUA TÁ COM DOR QUER IR LOGO NA FRENTE JÁ FALOU COM MÉDICO PIIIIIIIIIIIIIIII
– Amor, esta tudo ok, não se preocupe e tenha cuidado. Estou te esperando.
No hospital tudo estava preparado, médico a postos, todo mundo feliz, menos eu que estava à beira de um infarto, e ela foi pra sala de parto.
Sem mim, claro, porque eu não tinha a menor condição de acompanhar o nascimento do bebê, aliás isso não é a minha praia, mesmo.
Fiquei no quarto esperando o médico voltar com a boa notícia, mas estranhamente o parto demorou mais que o normal.
Finalmente, quando o bebê foi para o berçário e fui ver o pacotinho todo paizão coruja, percebi que a respiração dele estava muito rápida e ofegante.
Perguntei o porquê para a enfermeira que respondeu calmamente que isso era normal em prematuros.
Me tranquilizei Mas fiquei desconfiado.
No dia seguinte ele continuava com o mesmo cansaço e os médicos começaram a desconfiar de algo, quando a avó materna dele comentou que a mãe havia contraído uma infecção urinária.
Vinte minutos depois ele já estava numa encubadora na UTI e ficou assim por uma semana que durou quase um século. Lembro da primeira vez que fomos eu a mãe vê-lo na UTI.
Fomos Alegres por poder estar proximos dele e voltamos desesperados em completo silêncio quando percebemos que o quadro infeccioso dele era muito grave, pois a bolsa tinha se rompido por causa da infeção e ele tinha aspirado o líquido, causando pneumonia nos dois pulmõezinhos ainda não amadurecidos. Mas passou.
E quando ele teve alta, saiu direto da UTI para os braços da mãe, tão pequeno e frágil que não sabíamos o que fazer:
– Meu Deus, há uma hora ele estava numa incubadora…
Mas aí veio a segunda fase do game: chegando em casa, uma semana depois, o irmão mais velho foi acometido de catapora e ele, claro, pegou também.
Felizmente foi fraquinha, mas ele tem até hoje as marquinhas de guerra. Mas, herói como ele é, venceu tudo isso e mais um problema de pés sem cavas que o fez andar de botinhas ortopédicas por vários anos.
E cresceu, mas cresceu muito! Passou de mim em tamanho e inteligência. E em sabedoria. E em beleza.
Não, beleza, não, ele não passou de mim porque já nasceu lindo, mais bonito que tudo.
E agora que ele fez 18 anos, tá “de maior” e já se depara com mais milhões de desafios que a vida ainda vai lhe impor.
Mas ele é herói e vai superar tudo e, até quando ele quiser eu vou ser o seu Robin, o seu Buck, o Ricardito.
Ou o Supercão, mas isso quem decide é ele, que é o chefe.