O que torna a criança um adulto que convive em sociedade como um verdadeiro ser humano?
Como não perder o rumo ao tentar guiar uma criança neste caminho evolutivo quando no meio da jornada, em vez de uma pedra, tem uma cordilheira chamada adolescência?
Como fazer com que o adolescente atravesse a fase natural de contestação e busca da própria identidade sem se transformar em mais um dos muitos seguidores desses agentes de ódio e racistas que se proliferam diariamente na internet? Pior: e se ele estiver se tornando um deles?
A resposta pra tudo isso é, com certeza uma incógnita praticamente impossível de resolver, mas pode ficar um pouco menos sofrida se a formação da personalidade da criança for construído desde os primeiros meses da sua vida.
– Então, quer dizer que depois que o bebê nasce não vou ter mais nem um minuto de sossego?
Bem, não queria ser tão direto, mas já que você falou, senta aqui que vamos ter uma conversinha…
É magico quando sabemos da chegada de um bebê na família. Primeiro, um susto, bate o medo de não saber cuidar aquele serzinho frágil que está chegando, mas logo tudo se transforma em enxovais, cuidados e curiosidade: é azul, é rosa, tá sentado, não deu pra saber o sexo; enxoval tá pronto? o nome dele vai ser igual ao do meu avô, vai ser a cara do tio…
Logo que nasce, o bebê é cercado de todo o carinho e cuidados de todas as formas imagináveis, toda a estrutura familiar em torno da criaturinha se transforma; a partir da sua chegada, a vida dos pais, avós, tios e agregados se transforma. Tudo passa a ser vivido em função do pequeno e isso não tem como ser diferente. Ele e frágil, um vento frio oi um solzinho mais quente pode causar o alvoroço na vida de todos.
O primeiro sorriso, senta, engatinha, o primeiro dentinho, fica em pé, anda, corre, balbucia as primeiras palavras… É lindo demais, é magico demais, é maravilhoso muito além do que se poderia imaginar. E é aí que algumas pessoas perdem o rumo:
– Ai, que lindo ele dizendo não pra tomar o remédio…
– Gente, muito engraçado, ele imitando o pai brigando com a mãe dele…
– Não tem quem faça ele dormir no berço dele, só dorme com a gente…
– Tive que comprar o brinquedo, se não ele destruiria a loja…
Nos primeiro anos, tudo é lindo e parece inofensivo, e se acha que quando ele crescer, melhora. Ledo engano, porque a criança é a soma das suas experiências. Concordar ou se omitir quando a criança erra é o pior dos erros que os pais podem cometer. E, pior, o que parecia bonito no pequeno de três anos passa a ser criticado se ele repete o mesmo comportamento aos sete, dez anos.
Sem o não na hora certa, a sensação que a criança tem é que tudo é permitido e de que os pais têm a obrigação de atender a todos os seus desejos por mais absurdos que sejam. Se tem tudo, vai sempre querer tudo, e que ninguém se engane, as explosões virão a cada não repetido pra ela no futuro.
Pode parecer autoritário, mas esta fase é um período chave. É quando a criança deve ouvir os ‘nãos’ que deve receber, é quando deve seja repreendida a cada malcriação dita, a cada desrespeito com coleguinhas, professores, tios e avós. E nada pode ser mais grave nesta fase do que a omissão ou a ausência dos pais. Neste período ela aprende mais pela imitação e o exemplo dado pelos pais é praticamente tudo que vai introjetar em seu comportamento e formação de sua personalidade.
Entretanto, de nada adianta dar uma lição ao filho quando ele vê os pais fazendo o contrário do que se falou. A lição que se dá ao filho só terá alguma efetividade se ela for o reforço em palavras do comportamento presenciado no seio familiar. Lembra de quando ele nasceu que a doação foi completa pra fazer com aquele bebezinho tivesse toda a segurança possível nos primeiros anos de vida? Não acabou e agora a doação que deve ocorrer vinte e quatro horas por dia será em ser exemplo de cidadão e de um ser humano irrepreensível para o seu filho.
Ele não só vai agradecer quando for adulto, como você vai sofrer muito menos (mas, mesmo assim, não será pouco) quando ele estiver na adolescência.
Falaremos mais sobre isso em breve.