Luto infantil: O filme “Rei Leão” ajudou a minha filha a lidar com a morte do pai dela, que faleceu quando ela tinha 5 aninhos.
A perda de um ente querido, especialmente quando se trata de um dos pais, é uma experiência profundamente dolorosa para qualquer criança. No meu caso, a morte trágica do pai da minha filha, vítima de um assalto, deixou-nos enfrentando uma dor inimaginável. No entanto, uma luz de esperança surgiu da maneira mais inesperada – através de filmes como “Rei Leão”, “Irmão Urso” e “O Segredo dos Animais”. Esses filmes não eram apenas entretenimento para nós, mas também ferramentas valiosas que ajudaram minha filha a compreender e lidar com a perda de seu pai, passando pelo luto infantil de uma maneira um pouco mais leve, apesar do real peso de tudo isso.
O luto infantil: entendendo um pouco melhor
O luto infantil é um processo delicado e complexo, no qual crianças enfrentam a perda de um ente querido. É uma experiência que pode afetar profundamente a saúde emocional e psicológica das crianças, e é fundamental abordá-la com sensibilidade e apoio adequado. Vamos explorar este tema com base em fontes verdadeiras e confiáveis que oferecem insights valiosos sobre o luto infantil.
Compreendendo o Luto Infantil
Crianças são seres em desenvolvimento, e o luto infantil pode ser ainda mais desafiador para elas devido à sua falta de compreensão completa da morte. De acordo com o National Institute of Child Health and Human Development (NICHD), as reações ao luto infantil podem variar amplamente dependendo da idade da criança. Bebês e crianças muito jovens podem mostrar mudanças em seu comportamento, como dificuldade para dormir ou irritabilidade, enquanto crianças mais velhas podem expressar tristeza, raiva e confusão.
Fonte: National Institute of Child Health and Human Development (NICHD)
A Importância do Diálogo Aberto
A comunicação desempenha um papel crucial no apoio às crianças enlutadas. O Center for Loss and Life Transition destaca a importância do diálogo aberto e honesto ao explicar a morte a uma criança. Evitar palavras difíceis ou eufemismos pode ser mais prejudicial do que útil, pois pode levar a confusão e medo. É essencial responder às perguntas da criança de maneira adequada à sua idade e compreensão.
Fonte: Center for Loss and Life Transition
Oferecendo Apoio Adequado
O Child Mind Institute enfatiza que as crianças enlutadas precisam de apoio emocional e de um ambiente seguro para expressar suas emoções. Os adultos podem ajudar as crianças a lidar com o luto infantil oferecendo um espaço onde elas se sintam à vontade para compartilhar seus sentimentos, sem julgamento. Profissionais de saúde mental especializados em luto infantil podem desempenhar um papel fundamental na orientação das famílias e das crianças por esse processo desafiador.
Fonte: Child Mind Institute
O Impacto do Luto Infantil a Longo Prazo
O luto infantil pode ter impactos a longo prazo na vida das crianças. Segundo a American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (AACAP), algumas crianças podem enfrentar dificuldades em relacionamentos, problemas de saúde mental e comportamento antissocial como resultado do luto infantil. A identificação precoce desses problemas e a busca de apoio profissional adequado são fundamentais para ajudar as crianças a superar essas dificuldades.
Fonte: American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (AACAP)
Filmes como Tradições Familiares
Quando minha filha tinha apenas 5 anos, no ano de 2009, o acesso à internet na TV ainda não era comum. Assim, nossa rotina noturna incluía assistir a DVDs de filmes como “Rei Leão”, “Irmão Urso”, “O Segredo dos Animais” e outros, todos os dias antes de dormir. Embora possa parecer repetitivo, esses filmes se tornaram uma tradição familiar para nós. Cada um de nós se identificava com os personagens e, juntos, recitávamos as falas e cantávamos as músicas, criando memórias preciosas que guardamos até hoje.
Filmes como Ferramentas de Compreensão
A perda de um ente querido, em nosso caso o pai da minha filha, foi uma experiência dolorosa. Mas, quando assistíamos a filmes como “Rei Leão I” e “II”, minha filha encontrava uma maneira de revisitar suas emoções. Ela percebia que esses filmes tratavam da mesma questão que ela estava enfrentando: a morte do patriarca da história. No “Rei Leão”, por exemplo, diversas lições surgiam, como o ciclo da vida, a importância de seguir as regras, a confiança em adultos e a força que vem da amizade. Minha filha aprendia a lidar com suas próprias emoções e a compreender que a morte faz parte da vida.
Lições Aprendidas com os Filmes
Além de ajudar minha filha a lidar com a perda, os filmes ofereceram lições valiosas que se aplicavam às nossas próprias vidas. Através de “Rei Leão”, minha filha aprendeu sobre o ciclo da vida e a importância de seguir as regras. Com “Irmão Urso”, ela compreendeu a importância da amizade e do apoio mútuo. E com “O Segredo dos Animais”, ela internalizou o lema “Hakuna Matata”, que a ensinou a lidar com a vida de maneira positiva, mesmo diante de adversidades.
Lições de luto infantil tiradas de Rei Leão I:
- O ciclo da vida: Como diz a música inicial do filme, a vida é um ciclo e tem início, meio e fim. Assim, cada um tem seus momentos e também a sua hora de partir.
- Olhe as estrelas: Mufasa diz ao Simba que o seu pai o ensinou que os antigos reis sempre estariam olhando por eles dos céus, porque se tornam estrelas.
- Que as regras existem por um motivo: Na época, a Gi passou a perceber que muitas das regras existiam por um motivo e que geralmente este motivo era protegê-la.
- Que nem todos os adultos são confiáveis: Ao perceber a ingenuidade do Simba com Scar, Gi passou a questionar o perigo de confiar em qualquer adulto sem questionar.
- Que você é forte, mas não é autosuficiente: A Gi aprendeu cedo que apesar dela ser forte, ter certa autonomia para a idade dela, ela estava longe de ser autosuficiente.
- Que você pode encontrar bons amigos onde for: Com Timão e Pumba, Gi aprendeu que bons amigos ajudam a amenizar nossas dores e traumas.
- HAKUNA MATATA: Aprender a lidar com as coisas de forma positiva, vendo sempre o lado bom, por mais difícil que seja.
- Que sempre teremos a herança de quem somos: Por mais que sejamos diferentes dos nossos pais, ainda teremos eles em nós, queiramos ou não.
- Que o passado pode doer no presente: Mesmo que superemos tudo o que passamos, ainda haverão momentos em que o passado vai pesar e doer em nós no presente.
- Que devemos nos lembrar sempre de quem realmente somos: Podemos andar pelo mundo a fora, aprender o que for, mas não podemos nos perder de quem somos.
- Perdoar e não se igualar a quem lhe faz mal: O perdão é libertador. Não para quem é perdoado, mas para quem consegue perdoar, pois alivia a carga de dor.
- Que ser firme não nos faz insensíveis: Não precisamos ser rudes, nem grosseiros para sermos firmes. Podemos manter a firmeza com empatia e com sensibilidade sempre.
- Que tudo tem uma ordem e um momento para acontecer: Apesar de querermos as coisas no nosso tempo, as coisas tem uma ordem e um momento para acontecerem.
- Que a morte não é o fim: A morte pode cessar a vida material, mas ainda teremos as nossas memórias, aprendizados e legado de quem se foi.
A morte como parte da vida
Eu sei que para muitos pais, lidar com a morte é algo que faz mal aos filhos, mas eu penso justamente o inverso.
Quando o Luciano morreu, foram várias pessoas a me recomendarem não dizer à Gi que ele havia morrido.
Sugerirem dizer que ele havia ido trabalhar longe, que ele estava com problemas, etc.
Ao meu ver, todas as sugestões foram absurdamente sem cabimento, já que o Luciano era um pai presente demais.
Pensei em como qualquer uma outra explicação que não fosse a verdadeira iria fazer parecer que ele a abandonou.
Foi quando tomei a decisão de contar a ela sobre a morte dele.
Como contei sobre a morte do pai para a minha filha
Não foi nada fácil, mas eu decidi que era o certo. Chamei-a sozinha no quarto, ajoelhei-me diante dela e falei:
– Filha, o seu papai morreu hoje. Ele foi proteger a mamãe de um assaltante e o bandido o matou.
Ela me abraçou com lágrimas nos olhos, mas ainda sem entender a dimensão do que estava ouvindo. Era percepitível que a consternação dela era por conta do meu estado e não pela notícia, que ela ainda nem sequer compreendido. Ela não fez nenhuma pergunta na hora e dedicou toda a sua atenção a mim nos dias seguintes.
Quando eu finalmente estava melhor e pudemos sair juntas (e sozinhas), ao chegar, ela me fez a primeira pergunta:
– Mamãe, como este homem matou o meu pai?
– Com um tiro no coração
– Como foi o tiro, mamãe? Saiu sangue?
E eu tentei ser o mais honesta possível, mas sem tornar aquilo uma cena de horror para ela. Ela passou meses sem falar dele, lidando com o luto infantil do jeito dela, até que um dia acordou e me pediu para ver fotos e para eu contar coisas que eu lembrava sobre ele. Foi aí que criamos uma nova tradição para nós duas: os momentos de mãe e filha, onde falávamos sempre do que ela quisesse e geralmente eram sobre lembranças do pai.
Aprendi a confiar na capacidade dela de lidar com as situações reais
Depois disso, aprendi que era importante eu permitir que ela lidasse com o luto infantil da melhor maneira PARA ELA. Na época, não tive condições de pagar terapia para nenhuma de nós duas, o que seria importante tanto para mim, como para ela lidar com o luto infantil, mas apesar de não ter terapia, ao menos entendi que ela era quem deveria ditar e escolher como lidar com o luto infantil e eu deveria ser só o seu apoio.
Me arrependo amargamente de ter ouvido as pessoas e não tê-la levado à cerimônia de cremação do pai, pois sinto que isso teria ajudado-a a lidar com o luto infantil. Ela me fala disso sentida até hoje. Eu pensava estar fazendo o melhor por ela, mas hoje percebo que tirei dela um momento importante.
Importantes conclusões sobre o luto infantil
Em resumo, o luto infantil é uma experiência complexa que merece atenção e apoio adequado. É importante lembrar que cada criança é única e reage de maneira diferente à perda. Através do diálogo aberto, apoio emocional e, quando necessário, assistência profissional, podemos ajudar as crianças a compreender, aceitar e superar o luto, permitindo que cresçam com resiliência e saúde emocional.
Em momentos de perda e dor, muitas vezes, buscamos conforto em lugares inesperados. No nosso caso, a rotina de assistir a filmes como “Rei Leão” e outros não apenas criou laços familiares mais fortes, mas também ajudou minha filha a entender a complexidade da morte e a importância de seguir em frente. Esses filmes se tornaram mais do que entretenimento; eles se tornaram ferramentas de cura e compreensão. As lições que minha filha tirou dessas histórias a ajudaram a enfrentar a perda do pai e a crescer com resiliência e compreensão.
FAQs
1. Por que os filmes como “Rei Leão” são eficazes para ajudar as crianças a lidar com o luto infantil?
Os filmes, como “Rei Leão”, abordam temas universais, como a morte, de maneira acessível para as crianças. Eles oferecem personagens e histórias que as crianças podem se relacionar, o que torna mais fácil para elas compreenderem e processarem o luto infantil, elaborando-o de uma forma mais lúdica.
2. É apropriado falar sobre a morte com crianças tão jovens?
Sim, é apropriado falar sobre a morte com crianças, adaptando a conversa à idade e ao nível de compreensão delas. A honestidade e o apoio emocional são essenciais para ajudar as crianças a enfrentar no processo de luto infantil.
3. Como os pais podem ajudar seus filhos a lidar com o luto infantil?
Os pais podem ajudar seus filhos a lidar com a perda sendo abertos e honestos sobre o que aconteceu. Além disso, oferecer apoio emocional, ouvir as preocupações da criança e manter uma rotina estável podem ser úteis durante esse processo.
4. Quais são outras maneiras de ajudar as crianças a lidar com a perda?
Além de filmes e conversas abertas, atividades terapêuticas, como desenhar ou escrever sobre seus sentimentos, podem ser benéficas para as crianças. Procurar ajuda de profissionais, quando necessário, também é uma opção importante.
5. Qual a importância de manter tradições familiares após a perda de um ente querido?
Manter tradições familiares pode oferecer consolo e uma sensação de continuidade para as crianças após a perda de um ente querido. Isso pode ajudar a criar um ambiente seguro e previsível em um momento de turbulência emocional.