A adolescência e o beijo gay da Disney tornaram-se uma preocupação absurda para muitos pais. Mas será que é necessário?
Não é de hoje que sabemos que tudo o que gira em torno de sexo é um tabu.
Quando se fala dos filhos, então, sexo vira uma questão quase que intransponível, o que eu realmente lamento muito.
Na mesma medida em que pais e mães se consideram detentores do poder de decisão cabal ante a sexualidade dos filhos, também se eximem da responsabilidade de orientá-los a respeito.
Não é incomum conhecer jovens cujos pais proíbem qualquer questão em torno da sexualidade, pesando o assunto com considerável culpabilidade.
E no mesmo passo, estes mesmos pais se recusam a tocar no assunto em casa, mesmo que para orientá-los.
Isto se deve à uma cultura que reforça que sexualidade é algo sujo, culposo.
Assim, para muitos pais, se eles orientam seus filhos, falam abertamente de sexualidade, acreditam estarem incentivando-os à prática precoce.
Infelizmente, dadas estas crenças, muitos jovens se iniciam sexualmente sem a devida orientação e cuidado e quando se deparam com condições adversas não encontram apoio.
É o caso de muitos jovens gays, por exemplo, que são rejeitados por suas famílias, pois os pais acreditam que isto os fará “mudar de ideia”.
Ledo engano. Além de não fazer efeito, afasta os filhos de forma, muitas vezes, irrevogável.
Prioridades equivocadas
Para muitos pais, é muito mais importante garantir que o filho não seja gay do que garantir seu bem-estar autêntico e sua formação como indivíduo.
Dedica-se tempo demais para uma questão que, no fundo, os pais não terão nenhum controle real.
No máximo, terão a ilusão de que decidem pelos filhos com quem, quando e como assumirão suas rotinas sexuais.
Os pais e a ilusão de que podem definir os filhos
Um dos grandes enganos da humanidade é ver que passam-se gerações e os pais ainda não perceberam que não podem definir seus filhos.
Se por algum período de tempo eles os controlam, depois de uma certa fase, eles apenas estarão sendo levados a crer nisto.
Porque, na prática, os filhos irão onde querem, com quem querem e quando quiserem.
Basta pensar em si mesmo e lembrar quantas vezes foram tomadas decisões das quais seus pais nem sonhavam.
E se bobear, até hoje nem sonham.
A invasão da sexualidade
Baseados nesta ilusão, muitos pais realmente creem serem donos da vida dos filhos, inclusive da sexualidade.
Querem definir quando perderão a virgindade, com quem, onde.
Só falta o absurdo completo de estarem lá na hora pra conferir se foi do jeito que eles queriam.
Se tem algo que na minha cabeça não cabe, é pai e mãe querendo se meter na sexualidade dos filhos.
Isto chega a me soar doentio, inclusive.
Mas e o beijo gay da Disney?
Bom, o beijo gay da Disney não teria nada demais, a não ser porque conta de todos os relatos aí acima.
Se os pais não tivessem prioridades equivocadas, não se iludissem achando que podem definir os filhos e não se metessem em sua sexualidade, este tal beijo gay na TV não os afetaria em nada.
Mas com a necessidade absurda de decidirem pelos filhos quem e como serão, torna-se uma afronta cogitar que algo possa lembra-los do seu direito próprio de decidir por si e baseados no que sentem.
“Meu filho vai virar gay se vir o beijo gay da Disney”
Vê se pode uma coisa dessas? A pessoa nasceu, cresceu, viveu, teve filho e ainda não aprendeu que ninguém VIRA gay.
Ela nunca parou para pensar que se fosse assim, não existiriam filhos de religiosos conservadores gays, por exemplo.
Afinal, estes sempre foram criados só com informações e incentivos heteros, logo não teriam “VIRADO” gays.
“Então, se meu filho não FOR gay, pode ver o que for que não muda isto?”
Exatamente! Se ele não for de fato gay, se ele não sentir atração por alguém do mesmo sexo, não será beijo gay em desenho que o fará mudar isto.
Ser gay não tem nada de errado
Por outro lado, ser gay não tem nada de errado, mesmo que para você como pai, isto não estivesse nos seus planos.
Tenha em mente que nossos filhos são o que são em sua essência de sentimentos.
Se sentirem atração pelo mesmo sexo, nada do que você fizer mudará isto.
O que pode mudar é quem você é como pai ou mãe.
Você tem a escolha de ser bom pai ou mãe ou, infelizmente, não entender e oprimir os filhos.
Proibirem de vê-los a Disney, de terem amigos gays, de ouvirem divas pop, efetivamente não mudará o fato de que eles se atraem pelo que se atraem sexualmente.
Mas mudará e provavelmente destruirá a relação entre vocês que poderia ser maravilhosa, se você simplesmente entendesse que os filhos são o que são e não o que queremos que sejam.
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