São vários estudos que comprovam que apanhar na infância causa danos na vida adulta, mesmo que os danos não tenham sido percebidos.
Há quem negue que apanhar na infância causa danos na vida adulta, mas negar isso já é, por si só, um sinal de que há danos.
Sim! Relativizar a violência infantil, especialmente contra vulneráveis, é um sinal claro de danos causados pela vivência e relativização ao apanhar na infância.
Caso Pedro Scooby:
“Cara, teve uma vez que um amiguinho do Dom foi lá em casa, passar o dia lá em casa, aí o moleque foi com a mãe. A mãe estava ali, brincando e tal, e o moleque toda hora respondia. A parada já estava me deixando irritado”, disse Pedro Scooby durante o BBB22.
Claro que imediatamente tiveram os que defendem que apanhar na infância educa e até justificaram dizendo que o garoto, especialmente porque na fala dele ele completou que após o tapa na cara do menino, a boca inchou na hora e o garoto nunca mais respondeu.
Essa ideia de que ao bater, a criança deixa de praticar a ação que o adulto repreendeu com violência infantil, é sinal de que funcionou, é um equívoco, porque em geral ela funciona apenas diante desse adulto e dos que possam, porventura, “dedura-lo”, ou seja: não educa. Amendronta.
“Eu apanhei e tô vivo e bem”
A relação entre a vivência de apanhar na infância, marcada por palmadas e o desenvolvimento de distúrbios mentais tem sido objeto de estudo de diversas psicólogas renomadas. Uma dessas profissionais é Alice Miller, psicóloga suíça conhecida por sua obra “O Drama da Criança Bem Dotada” (1979), na qual aborda os impactos da violência física na infância. Miller argumenta que palmadas e castigos físicos podem contribuir para o surgimento de transtornos emocionais e comportamentais, defendendo a importância de um ambiente familiar saudável para o desenvolvimento psicológico.
Para fundamentar essa perspectiva, é possível destacar o trabalho da psicóloga Elizabeth Gershoff, uma pesquisadora norte-americana cujas contribuições ampliaram a compreensão dos efeitos das punições corporais em crianças. Gershoff conduziu uma meta-análise abrangente de estudos sobre o tema e concluiu que o uso frequente de palmadas está associado a efeitos negativos no comportamento infantil, podendo contribuir para a manifestação de distúrbios como ansiedade e depressão. Seu trabalho é valioso para embasar discussões sobre práticas parentais e saúde mental infantil.
É essencial considerar que a abordagem positiva na criação de filhos tem ganhado destaque, com psicólogas como Diana Baumrind defendendo a importância de estratégias educativas que promovam o desenvolvimento saudável das crianças sem recorrer à violência física. Suas pesquisas e orientações contribuem para a construção de um ambiente familiar que estimule o crescimento emocional e psicológico, afastando-se de práticas que possam desencadear distúrbios mentais.
A romantização da violência contra crianças e adolescentes
Bater em animais é inaceitável. Bater em idosos é inaceitável. Bater em adultos, plenamente capazes de se defender, é inaceitável. Então por que seria aceitável bater num filho, criança ou adolescente, em situação de completa vulnerabilidade?
A resposta é simples: porque fomos socializados para romantizar a violência parental que, na verdade, é a mais cruel das violências, já que vem justamente de quem deveria nos proteger, acolher e ensinar.
Quando o adulto erra, sente dor, cai ou qualquer coisa, recebe o acolhimento dos demais, que entendem que errar é humano, sentir dor gera sofrimento etc. Mas quando é uma criança, esse direito é anulado e, pior, a violência é inclusive cultuada.
Inclusive, é bem comum pais que não batem em filhos serem tratados como se fossem os errados. E é bem mais comum as pessoas ACONSELHAREM pais e cometerem violências contra os filhos quando o comportamento deles não corresponde ao esperado.
Essa romantização da violência parental só existe porque há PRAZER e SADISMO nessa violência e vai muito além do “apanhar na infância”, porque normaliza a ideia de que violência é demonstração de amor.
A romantização da violência infantil, muitas vezes expressa através do eufemismo “apanhar na infância”, é um fenômeno preocupante que demanda uma análise crítica e conscientização. A ideia de que disciplinar uma criança através de castigos físicos é uma prática benéfica ou necessária é desafiada por uma ampla gama de evidências científicas. Estudos mostram consistentemente que crianças que recebem punições físicas têm maior probabilidade de desenvolver problemas comportamentais, emocionais e sociais, contradizendo a noção de que “apanhar na infância” é uma medida eficaz na formação de indivíduos responsáveis.
É fundamental desmistificar a ideia de que apanhar na infância é uma tradição cultural inofensiva ou uma estratégia educacional válida. Pesquisas conduzidas por psicólogos renomados, como Murray Straus, enfatizam que o uso da violência como forma de disciplina pode resultar em efeitos prejudiciais a longo prazo, incluindo a perpetuação do ciclo de violência em gerações subsequentes. Romantizar a prática de punir fisicamente as crianças ignora os impactos nocivos que podem reverberar ao longo de suas vidas, afetando sua saúde mental, relacionamentos e desempenho acadêmico.
A promoção de práticas parentais baseadas no respeito, comunicação e empatia é uma abordagem mais eficaz e saudável do que a ideia ultrapassada de “apanhar na infância”. Psicólogas como Alice Miller e Elizabeth Gershoff destacam a importância de estratégias educativas positivas para o desenvolvimento saudável das crianças. Cultivar um ambiente familiar que valorize a compreensão mútua e o diálogo construtivo não apenas beneficia a saúde mental das crianças, mas também contribui para a construção de sociedades mais empáticas e resilientes.
Como educar sem bater?
Educar um filho é um processo contínuo e permanente e não é apenas falar uma única vez e de qualquer jeito e pronto. É sobre cuidar de como comunica, de como ensina, estar presente para garantir o direito de errar e de continuar sendo amado. Educar é acolher, é repreender, é dar limites, mas sempre com respeito.
Bater não é educar. Bater é violência.
Você vai falar a mesma coisa mil vezes, de mil formas diferentes. Muitas delas não vão funcionar. Igualzinho é com o seu marido ou esposa, com o seu colega de trabalho ou com você mesma, inclusive.
Educar sem recorrer à violência, desafiando a prática tradicional de “apanhar na infância, é uma abordagem que encontra respaldo em diversas correntes da psicologia e da pedagogia contemporâneas. A renomada psicóloga Diana Baumrind, por exemplo, destaca a importância de estratégias parentais baseadas no diálogo e na comunicação efetiva, em contraposição ao uso de punições físicas. A promoção de métodos educativos que priorizam o respeito mútuo e a compreensão é fundamental para o desenvolvimento emocional saudável das crianças.
Elizabeth Gershoff, outra figura proeminente na pesquisa sobre práticas parentais, defende a necessidade de abandonar a ideia de apanhar na infância em prol de abordagens mais construtivas. Seu trabalho evidencia que a disciplina não violenta não apenas contribui para um ambiente familiar mais positivo, mas também está associada a resultados positivos no comportamento e na saúde mental infantil. Educar sem recorrer à violência não implica permissividade, mas sim a adoção de métodos que promovam a responsabilidade e o entendimento mútuo.
A psicóloga Alice Miller, reconhecida por suas contribuições ao entendimento dos efeitos da violência na infância, ressalta que educar sem apanhar na infância é uma escolha consciente que contribui para que as crianças desenvolvam relações saudáveis consigo mesmas e com os outros. Miller enfatiza a importância de reconhecer e abordar as necessidades emocionais das crianças de maneira compassiva, criando um ambiente propício para o florescimento de sua saúde mental e emocional. Ao adotar práticas educativas não violentas, os pais e educadores podem desempenhar um papel significativo na formação de indivíduos mais resilientes e compassivos.
Crianças e adolescentes são PESSOAS
O antropólogo David Lancy tem se destacado em seu trabalho ao abordar a percepção social das crianças e adolescentes como indivíduos plenos, cujas vozes e experiências são frequentemente desconsideradas pela sociedade. Lancy argumenta que a romantização da violência infantil, muitas vezes expressa pelo termo apanhar na infância, está enraizada na falta de reconhecimento da autonomia e singularidade das crianças. Em suas pesquisas, ele destaca a importância de compreender as crianças como participantes ativos na sociedade, capazes de contribuir de maneira significativa para o ambiente social em que estão inseridas.
Ao explorar a obra de Lancy, percebemos que a romantização da violência infantil está intrinsecamente ligada à visão reducionista que negligencia a complexidade das experiências infantis. O antropólogo ressalta que a sociedade frequentemente subestima a capacidade das crianças de expressar suas necessidades e opiniões, perpetuando assim a ideia de que apanhar na infância é uma prática aceitável. Ele propõe uma mudança de paradigma que reconheça as crianças como agentes sociais, buscando promover uma abordagem mais respeitosa e inclusiva em relação à infância.
A análise antropológica de Lancy destaca a necessidade de superar estereótipos arraigados e reconhecer as crianças como membros legítimos da sociedade. Ao desafiar a romantização da violência infantil, ele contribui para a conscientização sobre a importância de respeitar a individualidade e a autonomia das crianças e adolescentes, promovendo assim ambientes mais saudáveis e empáticos para o seu desenvolvimento.
O respeito começa pelos pais, porque o exemplo arrasta
Sim! Você pode chiar, choramingar, mas é você, pai ou mãe, que tem que começar ensinando respeito. Sabe como? RESPEITANDO. Não dá pra ficar exigindo respeito, enquanto desrespeita.
Principalmente porque hoje os filhos tem acesso a informações e eles vão saber em algum momento que os pais tinham a OPÇÃO de criá-los com respeito e sem violência, mas ESCOLHERAM bater.
Então vão saber que os pais ESCOLHERAM deliberadamente cometer violência contra um ser vulnerável. Logo, obviamente isso não vai ser bom pra relação futura de vocês.
Então, meu conselho é: reveja HOJE MESMO suas atitudes e respeite seus filhos. Não cometa violência.
Ao contrário do que você pensa, apanhar na infância não só não educa, como também deturpa a noção real de violência, tanto que você mesmo acha que apanhar na infância educa, porque tem uma visão deturpada.
Dá para educar sem nunca dar uma palmada?
Sim. E minha filha e eu somos prova disso. Gigi tem 20 anos, mora sozinha, trabalha, é um amor, responsável e, acreditem: ao contrário do que diziam quando sabiam que eu nunca batia nela, ela jamais foi desrespeitosa comigo, muito menos violenta. Tudo isso, sem precisar apanhar na infância.
Sabem por quê? Porque eu a criei para ser segura de si, para ser respeitosa com as pessoas e ambientes. Eu a criei com respeito e para saber que agressões e violências são intoleráveis. Ela entra e sai dos lugares causando a melhor impressão.
Ao contrário do que dizem os entusiastas da palmada como forma educativa, ela jamais sequer cogitou me bater ou gritar comigo.
Essa desculpa de que se não bater, os filhos vão bater nos pais é só mais uma forma de se darem anuência para a mais cruel das violências: contra os próprios filhos.
Apanhar na infância não te fez sem quem você é hoje de bom. Te fez ser quem você é hoje APESAR de apanhar na infância, portanto você poderia ter sido muito melhor se não tivesse apanhado.
Sabendo disso, não submeta os seus filhos a isso, agora que já sabe que apanhar na infância não só não lhes fará bem, como também lhes fará mal.
Quebre o ciclo de violência ao qual você foi submetido ao violência infantil, não porque seus pais eram maus, mas porque eles não tinham acesso às informações sobre violência parental que você agora tem.
Quer saber mais sobre disciplina positiva? Leia o post: Entenda tudo sobre disciplina positiva