O que 13 reasons why ensinou para esta mãe de adolescente que vos fala.
Na verdade, pensei muito em como abordaria 13 reasons why e Hannah Baker neste blog.
Primeiro, porque existem vários vieses a serem abordados.
Segundo, porque é um tema deveras delicado e com personagens deveras delicados: adolescentes, pais e mães de adolescentes.
Decidi falar do que eu vi e aprendi como mãe de adolescente.
Antes, eu quero dizer que gostei muito de 13 reasons why, mas me incomodou demais o tom das gravações das fitas.
Sim. Me incomodou o tom de sarcasmo e o ar de vingança cômica que foi dado à Hannah Baker.
Numa situação de vulnerabilidade como a dela, penso que estas fitas viriam carregadas de um peso, de um tom de pesar, de raiva, rancor.
Em vários momentos ela se divertia tanto que parecia que ao fim da série, seria dado como se tudo não passasse de um trote dela.
Mas o assunto não é este. Então vamos focar no que aprendi.
1. Nunca devemos menosprezar as dores e os motivos delas
Já falei sobre isto em algum texto meu e reforço agora: para nós, podem parecer motivos banais, mas para eles podem ser o estopim de uma crise.
Quando um jovem sofre bullying, ainda mais se for de forma ostensiva, qualquer outra coisa passa a ser complicada.
Assim, temos que parar de achar que tudo é frescura e não tem motivos.
É importante que empoderemos os jovens, mas com o cuidado de não reforçarmos o bullying que ele já sofre ostensivamente.
2. O medo e a vergonha podem ser os maiores aliados dos criminosos
Tantas e tantas garotas sofrem assédios todos os dias e acabam se calando por medo e vergonha.
Medo dos pais, de como eles vão reagir.
Vergonha dos professores, de como irão banalizar a situação e culpabilizarem a garota, muitas vezes.
Aprendi que devo estar atenta e ser toda ouvidos para as dores e confissões de nossas meninas (e também dos meninos, claro).
Não temos que fazer juízo de valores e nem culpabilizados por estarem em situações de vulnerabilidade, porque vítimas não tem culpa.
Criminosos, sim.
3. Jovens que se cortam ou tentam suicídio precisam de atenção, sim!
Apesar de muitos adultos, inclusive pais e educadores, ainda não entenderem, pessoas que se mutilam ou tentam suicídem PRECISAM de cuidados e atenção.
A personalidade suicida não é, como dizem, característica de alguém que quer chamar atenção no sentido banal da coisa.
Trata-se de alguém com um distúrbio e que precisa de atenção, inclusive de cuidados profissionais.
Se o seu filho ou filha tem comportamentos de mutilação ou desejo de morte, por favor (eu imploro!) procure um psicólogo.
Não caia na conversa de gente que diz que é frescura, que é falta de surra e não espere pelo pior.
4. As pessoas são cruéis porque querem
Outra triste realidade: as pessoas são cruéis porque gostam, sim.
Elas querem ver as outras sofrendo e sentem prazer com isto.
Na cabeça delas, se a pessoa sofre de algum distúrbio, automaticamente se torna obrigada a fazê-los sentirem-se melhores.
Para eles é ok abusar da vulnerabilidade e é ok também extrapolar, afinal é só alguém com distúrbios (ou frescura, como dizem eles).
5. Os perigos estão mais presentes em nossas vidas do que queremos admitir
Quantas de nós, mães de adolescentes, não temos histórias “mal contadas” em nossas vidas que preferimos esquecer?
Ou então, ficamos nos sentindo culpadas por elas?
E infelizmente, as chances de nossas filhas virem a ter o mesmo tipo de história é enorme. Sabem por quê?
Em uma festa, em uma reunião de “amigos”, em um encontro de jovens, em uma baladinha.
Ser mãe de adolescente é viver o medo constante de pensar que nossos filhos possam ser vítimas e se calarem.
E se queremos evitar isto, temos que nos mostrar portos-seguros, abertos a ouvi-los sem julgamentos desde sempre.
E mesmo assim, ainda correremos o risco, porque para os jovens, contar que foram vítimas significa terem que confessar que não foram os filhos que eles acham que esperamos que sejam. 🙁
Se algum jovem estiver lendo isto, saiba: nenhum erro que você acha que possa ter cometido é mais importante para uma mãe do que qualquer risco que sua confissão possa evitar.