Com a repercussão do relacionamento entre Marcos e Emily, no #BBB17, veio à tona discussões sobre relacionamento abusivo, por isso achei importante falar sobre isto.
Eu usei o título “A sutileza do relacionamento abusivo” porque acho muito importante que fique claro para o máximo de pessoas, como este tipo de relação é uma construção envolta de situações naturalizadas e romantizadas.
Assim, dificilmente a vítima se percebe em um relacionamento abusivo e quando percebe, tem medo, dúvidas e se sente desamparada e sem ter a quem recorrer.
O reconhecimento do relacionamento abusivo
Não é fácil reconhecer um relacionamento abusivo, especialmente quando se está dentro de um.
Um bom exemplo disto é que ver que muitas pessoas de fora até percebem que a relação é ruim para uma das partes, mas a culpabiliza por não sair desta relação.
“Ah, ele trata ela mal, mas ela que não presta, porque não sai fora”.
Este tipo de observação é tão comum… As pessoas realmente não entendem que JUSTAMENTE por ser uma relação abusiva, a vítima NÃO CONSEGUE se desvencilhar.
O jogo psicológico do abusador
O jogo psicológico do abusador envolve a vítima através de manipulações, ora sendo um par perfeito, ora sendo quem dita as regras e impõe o medo e a insegurança.
Através de repetitivas ações, o abusador imputa na vítima a culpa por tudo que dá errado e o medo de não conseguir se virar sem ele.
Também constrói uma imagem de incapacidade para a vítima, além de fazê-la sentir-se só e sem ter a quem recorrer além dele mesmo.
Assim, a vítima tem medo de romper o ciclo e não ter com quem contar e não conseguir se virar sem ele, fazendo-a crer que por pior que seja, ele é sua melhor opção.
Como os amigos e a família fortalecem o abusador
O abusador geralmente é um cara legal, divertido e até bonzinho diante dos olhos alheios.
Tanto com os outros, como com a vítima, assim caso ela reclame, todos vão duvidar do que ela diz.
Muitas vezes, a vítima tenta pedir ajuda e acaba ouvindo coisas como “Se você largar dele vai viver como?”, “Nossa, pare de reclamar. Seu marido é ótimo e se você largar dele, nunca vai arrumar outro”.
Outro reforço involuntário que os amigos e a família, inclusive da própria vítima, dão, é aquela velha máxima do “Ah, mas ele nunca deixou faltar nada em casa” ou “É o jeito dele”.
Por que a vítima de relacionamento abusivo não sai fora?
Sabe quando você é assaltado e simplesmente faz o que o bandido manda por medo de levar um tiro?
Então, agora imagine sentir este medo todo dia, toda hora e o tempo todo?
Sentir medo de romper e fracassar.
Da família virar as coisas como o abusador faz as vítimas crerem que será.
Medo dele querer se vingar.
Insegurança. Autoestima devastada. Dúvidas. Desespero.
Tudo isso, somado ao fato de que quando ele percebe que a vítima está se dando conta do abuso, o abusador faz aquele velho teatro de chorar, pedir desculpas, mandar flores e ficar o perfeito parceiro por alguns dias.
Aí, ela pensando que finalmente ele vai mudar, fica e o ciclo recomeça.
A vítima não gosta de ser abusada!
Ao contrário do que muitas pessoas adoram afirmar “Se não sai fora é porque gosta”, elas não gostam de serem abusadas.
Elas estão inertes, paralisadas, manipuladas e confusas.
Vítimas são vítimas e não podem ser culpabilizadas pela ação de seus algozes.
Igual a gente que não reage ao assalto por medo de morrer, elas também não reagem a isto por medo de tantas coisas: morrer, de estarem erradas, serem julgadas, fracassarem, serem abandonadas pela família, etc.
E temos que parar de achar que a vítima está vendo as coisas como nós, claras, porque não está!
Estar dentro de uma relação abusiva é tão confuso que qualquer uma de nós podemos estar e nem percebermos.
É importante ficar atenta aos sinais
No meu outro blog, Lógica Feminina, fiz um post sobre os sinais de uma relação abusiva, que já ajudaram muitas mulheres a descobrirem que estão em uma.
Acho bom ressaltar que apesar da maioria absoluta dos relacionamentos abusivos serem de homens abusando de mulheres, também existem casos de mulheres abusadoras, sim.
Outro detalhe importante, é frisar que não é só quando existe agressão física que é um relacionamento abusivo.
A acuação, a devastação psicológica também configura relacionamento abusivo, sim.
Então não é porque o cara nunca bateu que ele não é abusivo.
Se ele tiver comportamentos combinados conforme o post que linkei ali em cima, é bom ficar atenta e começar a reparar mais ainda nas situações.
Mas relacionamentos abusivos só existem entre casais?
Infelizmente, não!
Existem casos de pais abusivos e de filhos abusivos também.
Imagine você que existam pais que criem seus filhos na base da ameaça, do medo, da violência, da agressividade e que considerem filhos propriedade deles?
Eis uma relação abusiva entre pais e filhos.
Por outro lado, imagine filhos que não respeitem os pais, que suguem deles todos os esforços como se nunca fossem suficientes, que intimidem os pais, que os ameassem, que os humilhem?
Eis uma relação abusiva entre filhos e pais.
Também existem relações abusivas no trabalho, entre chefe e funcionários, como também em outras esferas, de amizade, por exemplo.
Então, como pais, devemos ficar sempre atentos aos relacionamentos que nossos filhos constroem, pois podem estar sendo vítimas de relacionamentos abusivos e nem se darem conta.
Temos que ser firmes no apoio e na demonstração de que estaremos a postos para qualquer coisa, para que caso alguém esteja tentando tirar proveito de nossos filhos, isto dificulte ao máximo.
Enfim… É um assunto delicado, mas necessário.
E sobre o caso do #BBB17, eu espero que o Marcos saia do programa algemado para servir de exemplo para todo o país.
♥