Engraçado como em tudo a culpa é sempre da mãe, né?
Desculpem ter que dar essa notícia para vocês, pois não queria decepcioná-los, mas ser mãe não nos torna onipresentes, oniscientes e onipotentes.
“Nossa, vocês viram que fulana de 13 anos já tá namorando? A mãe dela deve ser muito descuidada.”
“Viu como os cabelos daquela menina estão bagunçados? Aff… Mãe desleixada, só pode.”
“Olha essa menina de 12 anos postando foto de shortinho curto e sensualizando. Cadê a mãe dela?”
Pois é… Sempre é culpa da mãe. A mãe que não cuida, a mãe que não liga, a mãe que não vê, a mãe que não educa.
Mas todo mundo se esquece de quando era adolescente e de quantas vezes a mãe foi apenas a trouxa da história, mesmo sendo cuidadora, antenada, esperta, pra frentex, amigona, autoritária, brava, meiga, perfeita, maravilhosa, super, master, etc, o que for.
Seja quem e como for a mãe, uma hora a filha vai aprontar algo, nem que seja algo básico, e alguém vai achar logo a culpada: a mãe!
Se a filha começa a namorar cedo e a mãe “permite” (entre aspas porque se a garota quer namorar, ela namora com ou sem esta tal “permissão”, sabemos) para tentar manter a filha perto: tá errada, porque tá sendo omissa.
Aí a mãe proíbe: tá errada, porque proibir não adianta, aí que ela vai namorar fora e aprontar mais ainda.
Resumindo: ser mãe já é uma tarefa complicada dentro de casa, mas a pior parte é e sempre será fora. Na boca das pessoas, mesmo as que também são mães.
Na verdade, ESPECIALMENTE as que também são mães e juram que suas filhas são santas (porque provavelmente não sabem o que as filhas fazem fora, mas ok, a gente perdoa porque todas somos trouxas mesmo).
Por isso que morro de medo de falar mal da filha dos outros e, claro, das mães dessas “filhas dos outros”. Porque eu não sei se tudo o que ensinei para a Gi vai valer para sempre ou se em algum momento ela vai conhecer um cara, se apaixonar e achar que tudo o que ensinei era babaquice e a única coisa certa é o que ele fala. Ou se alguma amiga vai convencê-la de que é legal fazer um perfil fake e umas fotos sensuais “porque ninguém vai saber” e aí um dia cai na internet e alguém retuíta falando “Cadê a mãe dessa garota?”.
Como falei no post anterior, eu acho que minha filha é a criatura mais incrível que já vi na face terrestre, mas não sei se isso é porque sou mãe (e trouxa) e muito menos, sei se isso durará para sempre.
Cada dia descubro algo novo sobre minha filha que nem ela sabia. Gostos novos, interesses novos. Vai saber como será daqui 1, 2, 3 anos? Vai saber se ela vai cometer algum erro, ainda que normal para quem é adolescente, mas que será perpetuado e imperdoavelmente relembrado eternamente na internet? E, claro: CULPA DA MÃE.
Por isso mesmo sempre relutei em escrever sobre “mães e filhas”. Por medo de acharem que estou tentando ditar regras ou ensinar alguém a ser mãe, sendo que essa nunca foi minha intenção. Aliás, ser mãe é algo que eu não sei como faz, mas vou aprendendo cada dia um pouco.
E hoje aprendi que uma hora posso ser eu a “mãe da vez” e ser massacrada com os “Cadê a mãe dessa menina?” sendo que infelizmente não tenho o dom da onisciência, onipresença ou onipotência.
Quem me dera, mas ser mãe é aprender a levar pedrada de todos os lados, porque sempre vai ter alguém achando que o que você fez não deveria ter sido feito, que era um absurdo, que isso ou aquilo.
E só para complementar meu desabafo, aí você pergunta: “Então o que você acha que deveria ter sido feito?”, as pessoas geralmente não sabem responder ou, se se atrevem, sugerem violência, sadismo, desumanidades e atrocidades descabidas e desproporcionais para os “delitos” dos filhos.
Eu ainda acredito na educação baseada em informação e empoderamento, que é bem diferente do foda-se, mas que aplica a teoria de ensinar com as próprias escolhas. Ensinar, estar ali do lado, ajudar a lidar com as consequências, o que não significa acatar e achar certo o que o resto do mundo fizer.
Ainda somos os adultos, portanto devemos agir como tal.
♥
4 Comentários
Ótimo texto. Ser mãe é uma tarefa que te obriga a conviver com críticas o tempo todo. Não apenas porque a sociedade considera você culpada por quaisquer “desvios” do que se considera desejável que seu filho demonstrar (e a mesma sociedade critica sem dó, como sempre, claro, sem assumir responsabilidade coletiva por nada), mas também por a mãe estar sempre mais próxima dos filhos que o pai (e digo isso como pai), o que acarreta também em efeitos colaterais: a maior parte dos “não” que um filho ouve, geralmente vem da mãe (que claro, infelizmente, é estigmatizada como “a chata” da história, ainda que esse “não” tenha sido apenas transmitido pela mãe e tido origem em um posicionamento ou decisão do pai). Claro que em um casal são (em que pai e mãe dividem responsabilidades de forma justa e clara) essa carga de estigmas em relação a responsabilidades é dividida com o pai, mas infelizmente vivemos em uma sociedade parametrizada e estúpida que acredita majoritariamente que é papel e obrigação exclusiva do pai sustentar a família financeiramente, e que é papel e obrigação exclusiva da mãe criar e educar os filhos. Parabéns Thati… mais uma vez espalhando mensagens importantes pelas interwebs. 😉
Muito obrigada, amigo Marco! Você bem sabe como é difícil e acredito que esse meu desabafo também se estenda aos pais, porque no fundo ele também leva muita culpa, mas como mãe é realmente mais complicado, já que as pessoas acham que mãe é (não sei de onde tiram isso, porque devem apagar da própria memória a fase de adolescência) super poderosa e sabe tudo. E vejo um monte de gente massacrando mães por conta de deslizes dos filhos, mas não fazem ideia do que é para a tal mãe quando descobre que foi a mais trouxa da história. Beijos <3
Quando eu tiver filho eles vão passar as férias na sua casa, já sabe né
Pode mandar! Amo crianças <3