Black Mirror | ArkAngel: uma boa oportunidade para refletirmos sobre superproteção e culpa materna
Assistir ao episódio Arkangel, da série Black Mirror, da NETFLIX, me aguçou alguns sentidos maternos.
Superproteção materna? Exageros maternos? Mães abomináveis?
Eu vivo num dilema – e acho que grande parte dos pais e mães também – entre a superproteção e a omissão e sei que tem um meio termo, mas na prática não é tão simples e tão dual.
Vendo o episódio 2 da quarta temporada de BlackMirror, me questionei sobre superproteção e sobre as formas de cuidado com os filhos.
Mas será que é disso mesmo que se trata o episódio ArkAngel, da quarta temporada de Black Mirror?
Contextualizando (contém spoiler)
Uma mãe solo cria a sua filha com a ajuda do avô materno e em dado momento num passeio de parque, a criança some por alguns minutos.
Diante do desespero a que ela se viu, ela aceita experimentar uma nova tecnologia que permite que pais vigiem os filhos.
Em resumo, ela passa a ver tudo pelo olhos da filha e pode inclusive filtrar o que a filha vê e ouve.
Em certo ponto, ela resolve abandonar o uso da tecnologia, até que a filha some e ela pega o aparelho para saber onde e com quem ela está, ao que se depara com a filha transando e usando drogas com um rapaz.
A partir daí, ela começa a agir pelas costas da garota, o que culmina em um rompimento entre elas.
O equilíbrio entre o zelar e o deixar ser
Em primeiro lugar, penso que faça parte da maternidade/paternidade este ímpeto de proteger.
No entanto, uma coisa que eu sempre procurei seguir, é o respeito ao indivíduo e às escolhas.
E não, não é algo fácil.
Recentemente, tive um sério problema com relação à segurança da Gi (ao qual ainda não me sinto a vontade para falar), mas que me fez obrigada a dar uma certa encurtada no laço.
Tive que tomar certas medidas para evitar que males pudessem acontecer.
E isto me fez sentir um pouco a mãe do S04E02 de Black Mirror.
Filtro e controle de tudo o que o filho vê e ouve
Uma das coisas que o episódio me trouxe, foi repensar esta coisa de filtrar tudo o que os filhos veem e ouvem, porque pode acabar tirando deles algumas percepções importantes.
Por exemplo, quando a personagem adolescente do #ArkAngel não pode ouvir nem ver o que o amigo contava sobre cenas fortes de violência e sexo, o que aguçou ainda mais a sua imaginação e perversidade.
Tanto que quando ela é liberta do filtro se satisfaz de maneira quase que sádica ao ouvir a respeito.
Então temos que pensar que o segredo, talvez, não seja impedir que os nossos filhos tenham contato com as coisas, mas ajuda-los a entender aquilo de forma adequada.
A eterna culpa materna
Tudo o que vi sobre o episódio foram comentários demonizando a mãe.
Mas em nenhum um único comentário – de todas as centenas que vi – perguntaram onde estaria o pai da menina.
A mãe a criou com ajuda do avô até certo ponto, depois seguiu sozinha sem ao menos ter com quem dividir decisões.
Posição mais do que comum a milhares de mães deste nosso Brasilzão a fora.
Aí que a mãe toma decisões que ela considera corretas diante do panorama que ela tem até ali.
Ou seja? Uma posição delicada em que milhares de mães se encontram todos os dias.
Mas quando algo dá errado…
Na vida real, sempre que algo algo dá errado, as pessoas caem matando em cima dela.
Mas ninguém, nenhuma única vez que seja, tenta ajuda-la de forma real, prática.
No máximo, tentam fazê-la mudar de ideia para algo que A PESSOA acredita ser melhor, mas que não tem qualquer garantia de que dará certo.
E caso dê errado, até mesmo a pessoa que deu a ideia vai culpar a quem? A mãe, óbvio.
Com aquela mãe do Black Mirror não foi diferente: ela só fez o que, na mente dela, seria o melhor caminho para salvar a filha da vida das drogas, do sexo (que tantas mães e pais consideram crime).
Se eu concordo com as atitudes dela? Não! Especialmente por ter agido pelas costas da filha.
Mas entendo perfeitamente e me compadeço, sim, dela.
Exageros e omissões maternos
Ser mãe é viver eternamente à base de reação.
A gente simplesmente reage a cada fato, acontecimento, potencial risco, etc.
Por mais que sejamos proativas, sempre vamos ter que reagir, já que especialmente na fase da adolescência, as coisas acontecem ao seu modo.
Assim, muitas vezes seremos, sim, exageradas.
Em outras, omissas.
A verdade é que não sabemos a medida certa entre a hora de agir e a hora de esperar, antes de invadir o espaço dos filhos.
Sendo assim, acabamos por viver este eterno dilema entre ser uma mãe exageradamente protetora e uma mãe omissa.
Claro que existem casos extremos em que mães e pais acham que podem controlar os filhos ou casos em que pais e mães deixam os filhos fazerem tudo sem qualquer regra.
No entanto, é importante entender que o equilíbrio dificilmente será alcançado, mas tem que ser eternamente perseguido.
Não existem níveis seguros de cuidado
Uma coisa que descobri da pior maneira possível, é que não existem níveis seguros de cuidado.
Sempre estaremos transitando entre exageros e desleixos, sim.
E sempre, sempre, por mais cuidados que tomemos, haverão níveis de riscos, previsíveis ou não.
Acaba que não há nada mais arriscado do que ser mãe, porque você aposta todas as fichas num desconhecido completo, que por acaso é seu filho.
Não sabemos quem será aquele filho até que ele efetivamente seja e aí, sim, saberemos que as ações tomadas foram precisas, exageradas ou omissas, conforme cada caso.
E isto é tão real que basta ver: uma mesma mãe pode ter 100 filhos e serão 100 pessoas completamente diferentes, por mais que sejam criadas iguaizinhas.
Black Mirror | ArkAngel: o que aprendi com este episódio
Que por vezes vou exagerar, por outras serei omissa.
Em todas, haverão aqueles que me apoiarão e os que me recriminarão.
E, por sorte, ao fim tudo terminará bem. Amém.
Aproveite e veja também o que falei sobre a série Stranger Things e a relação dela com a maternidade.