Uma carta aberta aos pais de adolescente, para que se lembrem de como éramos e de como eram os nossos pais.
São Paulo, 28 de Dezembro de 2010.
Queridos pais e mães de adolescentes,
Sei o quanto é complicado entender o mundo dessa molecada e também sei como é difícil nos fazermos entender por eles.
Agora, pense no quanto foi difícil para os nossos pais nos entenderem quando éramos adolescentes e em como foi difícil para nós sermos ouvidos, respeitados e levados a sério naquela época?
Cá entre nós, como nossos pais erraram, não é mesmo? Para alguns de nós, ainda hoje restam sequelas:
- quantos pais foram intolerantes, ao invés de nos explicarem como as coisas funcionavam?
- quantos foram agressivos e violentos, a fim de nos impedir de pensar por nós mesmos?
- e omissos? Quantos deles nos deixaram fazer tudo à toda hora e nem ligavam se estávamos bem ou não?
- fora os que, para nos proporcionar bem estar e coisas materiais, viviam trabalhando e nunca estavam dispostos nem mesmo a uma risada, que foss
- sem contar os pais que faziam atrocidades, vi0lência sexu4l, moral, psicológica etc
Para muitos de nós, superar tudo isso demorou. Já, outros, jamais superaram.
A dor das humilhações, das agressões, dos abus0s e violências deixam marcas profundas e que, muitas vezes, nunca passam.
Mesmo com muita terapia, com muito esforço, algumas sequelas e mágoas nos atravessam e jamais se curam, mas precisamos nos esforçar para que, mesmo com tanta dor, não sejamos quem vai deixar essas marcas também nos nossos filhos.
Precisamos pensar sobre que tipo de pais queremos ser, sobre como queremos ser vistos e lembrados pelos nossos filhos adolescentes.
Que tipo de pais queremos ser?
- Pais duros e incapazes de orientarem, incapazes de se comunicarem de forma respeitosa e de se posicionarem sem usar de métodos vi0lentos e traumáticos, frequentemente não tem acesso aos filhos na fase adulta.
- Pais insensatos e intolerantes, a ponto de NÃO entenderem que nessa fase da vida em que os adolescentes estão, tudo parece mais, maior e urgente, que os hormônios tem vida própria e que a sensação de que só se pode saber como é depois de experimentar, faz parte?
- Pais incapazes de se colocarem no lugar dos adolescentes, de ouvi-los atenta e respeitosamente, de compreender o ponto de vista deles ao tomar certas decisões ou atitudes, antes de simplesmente reagirem a tudo?
Um apelo nesta carta aberta aos pais de adolescente
Então, esta carta aberta aos pais de adolescente, é para lembrá-los que sermos bons pais dá trabalho, exige esforço e muita flexibilidade, mas vale muito a pena.
Sejam os adultos da relação, ajam como exemplo para os filhos, demonstrando respeito tanto entre si, como também com os filhos. Sempre.
Aprendam a ouvir os filhos, praticando a empatia, demonstrando boa-vontade e, sobretudo, que são capazes de admitir seus erros e buscar consertá-los, para que eles também aprendam a fazer o mesmo e tornem-se pessoas honradas e capazes de aprender e evoluir.
Demonstrem humildade, abram mão do ego exacerbado e do orgulho tolo que frequentemente toma conta dos pais, que acham que autoridade se exige, quando na verdade, autoridade é a consequência de uma postura harmoniosa, corajosa e, sobretudo, respeitável.
Bons pais de verdade aparecem nas horas difíceis
Ser bons pais quando tudo está bem e sob controle é fácil e natural. Difícil mesmo, mas gratificante, é ser bons pais quando as coisas estão difíceis, quando os filhos estão com problemas ou, mais ainda, quando estão dando problemas.
No senso comum, pais devem agir como trogloditas, castigando os filhos para “educá-los”, mas os bons pais de verdade, aqueles com quem os filhos realmente aprendem de verdade e que se tornam referências para a sociedade que os cerca, são os pais capazes de serem humanos e flexíveis, acolhedores e firmes, na medida dos erros dos filhos.
Basta observar que, ao lembrarmos de pais bons, sempre vamos lembrar dos pais que souberam lidar com a situação sem agressão, vi0lênca, sem perder a cabeça, agindo de forma ponderada, discreta e, sobretudo, sendo firmes, mas sem deixar de serem amorosos.
Então, a minha carta aberta aos pais de adolescente é para lembrar-vos que o verdadeiro amor não machuca, não humilha, não expulsa, não causa dor. Ele acolhe, ele ensina, ele apoia, ele rega, ele ama, ele RESPEITA.
Sejam bons pais. Sempre.